"As regiões traiçoeiras e inexploradas do mundo não se encontram nos continentes ou nos mares; estão nas mentes e nos
corações dos homens."(Saint Exupéry)

sábado, 11 de junho de 2011

Por uma outra Sociedade: A Sociedade das Coisas

O Homem é um animal político”. Já afirmara Aristóteles no século IV a.C. O filósofo grego queria dizer que o homem é um ser social por natureza, ou seja, a condição para existir o homem é a existência do outro para reconhecê-lo como tal. Seguindo essa linha, podemos afirmar que foi a partir da relação eu – outro que o animal se humanizou e pôde, através da linguagem, construir cultura, mais ainda, construir História. Isso implica na idéia de que não existe história individual, a história é sempre coletiva, construída diariamente pelo conjunto das ações humanas(1).
Sociabilidade, seria essa a tão procurada essência do homem? Se for, vem à tona uma cruel realidade: a humanidade está perdendo sua essência. Nossas relações eu – outro, que em um primeiro momento nos humanizaram, estão agora nos coisificando, isso porque estamos transformando o outro e até nós mesmos em coisas. Numa sociedade onde tudo vira mercadoria, fica fácil nos confundirmos com os objetos que usamos e classificar o outro a partir da marca de sua roupa e o ano de seu carro. É a sociedade do consumo, do marketing, dos anti-depressivos, das longas jornadas de trabalho para ganhar mais dinheiro e assim poder comprar mais objetos, pois, na lógica capitalista, ter mais é sinônimo de ser mais.
O individualismo, característico da sociedade burguesa, substituiu as relações afetivas por relações de competição. Estamos sempre competindo: no trabalho, na escola, no amor, seja por dinheiro, seja por status... Nessa competição somos tentados a pensar que nós somos auto-suficientes, que a nossa felicidade não depende do outro, só do eu. Tentamos contrariar nossa natureza nos afogando em nossos próprios pensamentos. O resultado, Renato Russo já cantou: “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão...”(2).
Mas como escapar da solidão? Nossa saída desesperada está nas coisas, na tecnologia, na TV, nas salas de bate papo da internet... Procuramos inúmeros paliativos para não ter que recorrer à verdadeira solução: o outro. Talvez isso explique o incrível sucesso dos jogos simuladores da vida como o Second Life e o The Sims, pois, a vida virtual parece bem mais fácil de ser vivida, ela é menos dolorosa, menos frustrante. E dessa maneira vamos trilhando o caminho inverso da humanização: a vida do outro passa a valer pouco frente as nossas coisas, os problemas individuais passam a ser mais importantes do que os problemas coletivos, a violência vai se banalizando e nossa casa vai se transformando em uma fortaleza para nos abrigarmos de “tudo que a sociedade tem de ruim”.
Contudo, não podemos nos entregar à solidão, precisamos resgatar a solidariedade perdida no universo das coisas. Temos que reviver antigos hábitos: a conversa na calçada, o passeio despreocupado no parque, a “pelada” do fim de semana... Precisamos, mais do que nunca, rir, amar, brigar... Enfim, temos que resgatar o outro, não o outro objeto, o outro coisa, mas sim, o outro companheiro, amigo, humano. Caso contrário, a humanidade morrerá(3).


NOTAS

(1) Não queremos aqui tirar a importância do indivíduo na história, mas sim, concordar com o poeta e teatrólogo alemão Bertolt Brecht em seu poema Perguntas de um trabalhador diante de um livro de História:
[...]
Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia? Tantas vezes destruída,
Quem a ergueu outras tantas? [...]



(2) Esperando por mim. Legião Urbana, A Tempestade. 1999. EMI music.


(3) Morrer no sentido de perder sua principal característica, a sociabilidade.

Texto compartilhado por Daniel Dreamweaver de autoria de Jônatas Cruz, graduando em História pela Universidade Federal de Pernambuco.


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Um comentário:

  1. Vlw poe compartilhar o texto brother. Vamos ampliar o debate. Em breve novas postagens...
    Abraço

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