"As regiões traiçoeiras e inexploradas do mundo não se encontram nos continentes ou nos mares; estão nas mentes e nos
corações dos homens."(Saint Exupéry)

sábado, 4 de junho de 2011

Por uma outra Geopolítica: Ambiguidades do ser humano


O que é ser humano na atual conjuntura? O conceito de humanidade varia de época para época, porque expressa as “verdades” de um contexto histórico, filosófico, político, econômico e cultural de determinado momento ou de certo grupo social. Às vezes, falamos que há muita desumanidade no mundo de hoje. Para afirmarmos isso com plena convicção, faz-se necessário examinar cada contexto do globo terrestre, porque a cultura dos povos é diferenciada. Isso nos leva a crer que um fato triste, ou seja, “desumano” ou “cruel”, para um grupo pode ser considerado “natural” para o outro. Pois bem, como já deu para perceber, não conseguimos falar em humanidade sem tocar no seu oposto, desumanidade.

De qualquer forma, o significado de humano também envolve ambiguidades. Pode expressar noções sobre o homem ou simplesmente caracterizá-lo. No segundo caso, essa idéia está ligada aos adjetivos: bondoso, compassivo, caridoso. Bem, em qualquer uma das possibilidades, ser humano fala sobre o conjunto das criaturas, sobre a natureza humana, sobre o gênero humano mesclado aos sentimentos de clemência. Obviamente, todo esse rodeio apresentado foi para dizer que, num sentido amplo, o homem não está vivendo ou talvez nunca tenha vivido esse sentimento de humanidade em sua plenitude. Inúmeros fatores influenciaram sempre nas condutas ditas “humanas”. A própria Igreja Católica, na época da Inquisição, tratou com a mais feroz desumanidade aqueles que não concordavam com as suas idéias. Várias “bandeiras” de lutas foram desumanas, as duas Guerras Mundiais, o Holocausto, as revoluções, não importa se de “direita” ou de “esquerda”, os seqüestros, os massacres, os assaltos, o terrorismo, etc. Onde o homem teve que matar o seu semelhante para conseguir o triunfo de seus ideais (interesses), não ocorreu humanidade. É a ganância, a competição, a necessidade de se sobrepor economicamente aos outros, os preconceitos de uma forma geral, “clichezados” no e pelo senso comum, os desejos construídos pela mídia e o poder governamental autoritário são os principais agentes que estabelecem o grau de desumanidade entre os seres humanos.

Diante do que estamos vivenciando hoje, no nosso planeta, não penso mais em encontrar no meu semelhante o grau de humanidade tão sonhado por mim. Os braços estão endurecidos, o ser humano não consegue esticá-los para ajudar o seu irmão, até por que ele nem reconhece no outro a irmandade. Esses mesmos braços estão embrutecidos pelo labor diário ou engessados pelo ócio burguês. Maniqueísmo? Não, apenas consciência do caos humano, da falta de humanidade entre os humanos. Cada vez mais, notamos uma “animalização” do homem e uma “humanização” dos bichos. Não queremos dizer que os animais devam ser maltratados, bem pelo contrário, devemos ter humanidade para com todos os seres vivos que habitam este mundo. No entanto, às ruas, vemos cachorros cobertos de roupinhas de “grife” no frio, com fitinhas em seus pelos brilhosos. Vemos até cadelas enfeitadas com colares e pingentes. Ao olhar para o outro lado da calçada, vemos também um irmão nosso, deitado na laje fria, todo sujo, imundo, talvez até moribundo, esfarrapado, desviando o seu olhar do cachorro abastado. Por que essa humanidade que é dada aos bichos não é estendida igualmente ao homem? Quantas crianças morrendo de fome, e as fábricas de comidas para cães e gatos faturando altíssimos lucros. Quantas crianças necessitando da adoção e as pessoas assumindo animais e animais para a sua domesticação. Talvez esteja aí mesmo a resposta, na domesticação. Criar um ser humano dá trabalho, ele pensa, ele tem vontades, ele expressa a sua intenção, em contraposição ao animal, que é irracional e facilmente moldável. É o egoísmo a palavra-chave da desumanidade. Nada mais bizarro ainda do que encontrar no Orkut um perfil de um cão ou de um gato de estimação.

Portanto, enquanto não nos dotarmos de amor ao próximo, dificilmente veremos os seres humanos existindo com humanidade. Enquanto não acontecerem políticas públicas voltadas ao ser humano e não ao capital, não teremos dignidade. Enquanto não houver investimento máximo em educação, e existir gente comendo nas latas de lixo, dormindo nas ruas, catando papéis, mendigando, matando para roubar, devemos sentir vergonha dos seres desumanos que a nossa sociedade desumana engendra, por ser, também, governada por políticos desumanos.(Tânia Marques)

Um comentário:

  1. Daniel, muito obrigada por reproduzir meu post aqui. Fiquei muito feliz com isso. Beijão!

    ResponderExcluir