"As regiões traiçoeiras e inexploradas do mundo não se encontram nos continentes ou nos mares; estão nas mentes e nos
corações dos homens."(Saint Exupéry)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Por uma outra Geografia do Poder: "Michel Foucalt e as relações de Poder"



“O poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Não existe de um lado os que têm o poder e de outro aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamente falando, o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E que funciona como uma maquinaria, como uma máquina social, que não está situada em um lugar privilegiado ou exclusivo, mas que se dissemina por toda a estrutura social. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação. E esse caráter relacional do poder implica que as próprias lutas contra seu exercício não possam ser feitas de fora, de outro lugar, do exterior, pois nada está isento de poder. Qualquer luta é sempre resistência dentro da própria rede do poder, teia que se alastra por toda a sociedade e a que ninguém pode escapar; ele está sempre presente e se exerce como uma multiplicidade de relações de forças. E, como onde há poder há resistência, não existe propriamente o lugar de resistência, mas pontos móveis e transitórios que também se distribuem por toda a estrutura social.”


Então, é necessário que as pessoas passem a olhar de outra maneira para si mesmas (tendo o poder de continuamente se perscrutarem, indagando quais estruturas as formam e quais "trejeitos de vontade" marcam-nas, a fim de não se deixarem escravizar, manipular ou ‘docilizar-utilizar’, para o funcionamento e para a manutenção da sociedade industrial, capitalista) e para o seu semelhante (como alguém que não tem consciência do quanto o seu corpo e o seu comportamento são frutos da sujeição ao poder disciplinar), que compreendam que toda rede de poder produz saber, e que não há saber neutro. (Observações e grifos meus)

“Todo o saber é político. Não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder. Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber. Saber e poder se implicam mutuamente”.


“A ação sobre o corpo, o adestramento do gesto, a regulação do comportamento, a normalização do prazer, a interpretação do discurso, com o objetivo de separar, comparar, distribuir, avaliar, hierarquizar, tudo isso faz com que apareça pela primeira vez na história esta figura singular, individualizadas - o homem - como produção do poder. Mas também, e ao mesmo tempo, como objeto de saber”.

“O problema não é mudar a ‘consciência’ das pessoas, ou o que elas têm na cabeça, mas o regime político, econômico, institucional de produção da verdade”.

“A ‘verdade’ está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem a apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem. ‘Regime’ da verdade.” (...) “Em suma, a questão política não é o erro, a ilusão, a consciência alienada ou a ideologia; é a própria verdade”.

“É justamente a regra que permite que seja feita violência à violência e que uma outra dominação possa dobrar aqueles que dominam. Em si mesmas as regras são vazias, violentas, não finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou àquilo; elas podem ser burladas ao sabor da vontade de uns ou de outros. O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto; de quem, se introduzindo no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras.”


“O poder, para Foucault, provém de todas as partes, em cada relação entre um ponto e outro. Essas relações são dinâmicas, móveis, e mantêm ou destroem grandes esquemas de dominação. Essas correlações de poder são relacionais, segundo o autor; se relacionam sempre com inúmeros pontos de resistência que são ao mesmo tempo alvo e apoio, ‘saliência que permite apreensão’. As resistências, dessa forma, devem ser vistas sempre no plural”.

“Para uma metodologia de análise, Foucault sugere quatro ‘prescrições de prudência’:
1 - regra da imanência: a produção de saberes se relaciona com relações de poder; focos de saber-poder;
2 - regra das variações contínuas: as relações de poder não são estáticas, não há dualidade opressor/oprimido;
3 - regra do duplo condicionamento: os focos locais de poder são condicionados por estratégias globais e vice-versa, ambos apoiando-se mutuamente um no outro;
4 - regra da polivalência tática dos discursos: o discurso não reflete a realidade, o poder e o saber se articulam no discurso. Não há discurso excluído e dominante, mas uma multiplicidade de discursos, que se inserem em estratégias diversas. O discurso veicula e produz poder. Por exemplo: o discurso instituiu a homossexualidade como pecado, classificou-a como patologia, mas também possibilitou-a de falar por si, de reivindicar espaços e discursos próprios.

"As pessoas sentem minha escrita como uma agressão; elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte; eu não as condeno à morte, simplesmente suponho que já estejam mortas".

Michel Foucault

Texto adaptado por Daniel Dreamweaver, extraído do blog palavras e imagens de Autoria de Tânia Marques.....

Fontes das imagens:
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1990.
http://marquesiano.blogspot.com/search/label/poder?&max-results=7
 

Um comentário:

  1. "Quem é o juiz? O juiz é Deus. Por que Ele é Deus? Porque Ele decide quem ganha ou perde, não meu adversário. E quem é o adversário? Ele não existe. É apenas uma voz que discorda da verdade que eu digo."

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